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Centro de Ciências Agrárias: 84 anos de dedicação ao ensino, pesquisa e extensão
(Prédio Central - Foto: Ivandro Candido)
Histórico
(por Prof. Daniel Duarte Pereira, DFCA/CCA/UFPB)
Foi uma doença, sim uma doença na cana de de açúcar, a gomose, que motivou o envio pelo Presidente da Província da Parahyba do Norte do Engenheiro Francisco Soares da Silva Retumba Filho a então Villa Real do Brejo D'Arêa em meados de 1884 e que mesmo sendo Engenheiro de Minas, e reconhecendo os seus poucos conhecimentos pelo tema, apenas demoveu os donos de engenho a não substituírem a cana pelo café. Estes encontraram a solução por eles mesmos substituindo a cana Caiana pela Preta ou Crioula.
Retumba Filho, entretanto, sugeriu a criação de uma Escola de Agricultura no interior da Província com sede na Villa Real do Brejo D'Arêa.
Apenas com a visita do então Presidente Revolucionário Getúlio Dorneles Vargas a cidade, nos idos de 1933, em conhecendo a Exposição dos melhores produtos agropecuários é que se ensaiaram os primeiros passos para a efetiva criação de uma instituição de Ensino Superior.
Por esta época era Ministro de Viação e Obras Públicas (MVOP) desde 1931, e considerado o "Vice-Rei do Norte" o areiense José Américo de Almeida que não mediu esforços para a efetivação da proposta. Em parceria com Juarez do Nascimento Fernandes Távora, então Ministro da Agricultura chegaram enfim ao pleno êxito. Há quem diga que foi uma resposta ao favor de José Américo pela nomeação de Juarez como Ministro em 1932.
Em 1934 na então Interventoria Federal, no estado da Parahyba do Norte, de Gratuliano da Costa Britto, contraparente de José Américo de Almeida e natural de São João do Cariri, é criada por Decreto a Escola de Agronomia do Estado da Parahyba (EAP) em uma ação conjunta entre os governos federal e estadual e cinquenta anos após a sugestão de Retumba Filho.
Para tanto foi desapropriado o Engenho Várzea, daí um dos nomes Escola de Agronomia do Várzea (EAV) a pouca distância da sede municipal.
Finalmente no dia 15 de abril de 1936, há 84 anos, era inaugurada a EAP/EAV sendo desde então a primeira instituição leiga de Ensino Superior do Estada da Parahyba do Norte que posteriormente foi denominada de Escola de Agronomia do Nordeste (EAN) sendo logo depois federalizada junto ao Ministério da Agricultura e posteriormente passando a alçada do Ministério da Educação de onde está sob a salvaguarda da Universidade Federal da Paraíba, também criada por José Américo de Almeida, como Centro de Ciências Agrárias (CCA) havendo no passado pertencido por curto período ao Centro de Ciências e Tecnologia de Campina Grande (CCT).
Nestes seus oitenta e quatro anos de existência, foram criados e encerrados os cursos de Técnico Agrícola, Ginásio (Maestria) Agrícola, Formação de Capatazes e Economia Doméstica.
ATUALIDADE
(Por Prof. Manoel Bandeira de Albuquerque)
O Centro de Ciências Agrárias conta atualmente com 124 docentes distribuídos em 7 departamentos (DFCA, DZ, DSER, DQF, DCV, DCB e DQF), que dão suporte a 7 cursos de graduação. No entanto devemos aumentar este número com novas cinco vagas a serem preenchidas por concurso e três redistribuições de docentes de outras IFES já aprovadas.
O CCA possui um largo histórico de desenvolvimento de pesquisas científicas de alto nível nas áreas de agrárias (agronomia, zootecnia e solos) e mais recentemente o reforço nas áreas de ciência animal e da biodiversidade. Contamos com os programas de Pós-Graduação em Agronomia (Mestrado e Doutorado), Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (mestrado) e Doutorado Integrado em Zootecnia, Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (mestrado), Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (mestrado) e o Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (mestrado), além dos cursos de Residência em Clínica e Cirurgia Animal e Residência em Diagnóstico em Medicina Veterinária. Graças a esses programas possuímos parcerias nacionais e internacionais com diversas instituições, tais como: EMBRAPA, Governo do Estado da Paraíba, Instituto Nacional do Semiárido (INSA), FCAV/UNESP, UFV, UFBA, Universidade de Córdoba/Espanha, Universidade de Zaragoza/Espanha, Universidade de Florença/Itália, Universidade de Sassari/Itália, Universidade de Arkansas/EUA, Universidade de Aveiro/Portugal, Coimbra/Portugal, Universidade Trás-Os-Montes/Portugal, Universidade de Lisboa/Portugal, Universidade da Georgia/EUA, Universidade da Carolina do Norte/EUA, Universidade de Delaware/EUA, Universidade de Witwatersrand/África do Sul e Universidade de Queensland/Austrália, Joint Pathology Center, divisão veterinária das Forças Armadas dos Estados Unidos. Coordenamos também a Rede Internacional de Limnologia de Terras Secas (INLD).
Além das parcerias com as instituições públicas, esta vem se destacando também em suas pesquisas com várias empresas privadas nacionais e internacionais, como: Adisseo, ABVista, Alltech, Aleris, Ajinomoto, Cargill, Guaraves, Novus, Evonik, Zinpro, Cobb, Uniquímica, Deheus, Hyline, Yes, Phytobiotics, DSM e Dupont.)
Em termos de alunos de graduação e pós-graduação contamos com aproximadamente 1300 estudantes sendo aproximadamente 300 com acesso à residência universitária. Para dar suporte a esses alunos contamos com um restaurante universitário, além de uma estrutura de quadra coberta, campo de futebol, academia de ginástica, um grêmio estudantil com lavanderia, com TV, cozinha coletiva e acesso à internet. Possuímos, ainda, um Centro Médico-Odotonlógico e Psicossocial “Odontóloga Ana Nere”, o qual terá uma nova sede inaugurada ainda em 2020 e conta com médica, enfermeira, auxiliares em enfermagem odontólogo, psicologa e assistentes sociais.
(Biblioteca Setorial "Francisco Tancredo Torres" - Foto Ivandro Candido)
A Biblioteca Setorial Francisco Tancredo Torres foi fundada em 1973, integra o Sistemas de Bibliotecas da UFPB (SIBI/UFPB), possui cerca de 1000m2 área construída: 2 salões para estudo, 5 salas de estudo em grupo, um auditório com capacidade para 50 pessoas, laboratório de informática, sala de multimeios, sala de coleções especiais, 14 cabines de estudo individual, e um acerco com livros e periódicos nacionais, internacionais, além de fazer parte do catálogo coletivo nacional, com média de 1000 empréstimos/mês. Atuam na Biblioteca: 3 bibliotecários, 3 assistentes administrativos e 4 servidores terceirizados nos três turnos de funcionamento da biblioteca, além de ser repositório de toda produção acadêmica do CCA (TCC, teses e dissertações). São mais de 7000 títulos catalogados na nossa base de dados, sendo 19.500 materiais disponíveis para os usuários.
Abrigamos também o Museu do Brejo Paraibano (também conhecido como Museu da Rapadura), o qual teve sua área delimitada em 1979, mas iniciando as suas atividades museológicas em novembro de 1997, sendo regulamentado pela Resolução nº. 70/1999 do CONSEPE/UFPB.
(Hospital Veterinário - Foto: Ivandro Candido)
O CCA também possui uma longa tradição de prestação de serviços à comunidade. Destacamos o nosso Hospital Veterinário, que entre 2012 e 2019 realizou quase 26.000 atendimentos dentre pequenos e grandes animais com uma equipe de docentes, técnicos (23 ao todo, sendo 6 médicos veterinários) e residentes, sendo a sua Superintendência participante da rede FORDHOV (Fórum dos Dirigentes de Hospitais Veterinários Universitários).
Destacamos também o Laboratório de Tecnologia de Solos e de Produtos de Origem Vegetal e Animal / Instituto de Desenvolvimento do Estado da Paraíba (IDEP), que tem como missão o desenvolvimento rural sustentável do Estado por meio da geração e difusão de conhecimento e tecnologia na área do agronegócio e da agricultura familiar. No ano de 2018 esse Laboratório foi responsável pela análise de 2890 amostras de fertilidade, micronutrientes, salinidade e física dos solos provenientes de 82 municípios da Paraíba e 19 municípios de outros estados.
Destaca-se, também, o nosso viveiro Florestal, pertencente ao Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais e considerado o maior em funcionamento na Paraíba, com apoio de fundos setoriais da Capes e Cnpq, Fundação Boticário (2 milhões de mudas), cursos de viveirismo (mais de 350 agricultores), com uma produção anual de 200 mil – 300 mil mudas, sendo aproximadamente espécies 90 delas nativas (Ipes, craibeira, jatobá, oiti, sabiá e etc).
No Laboratório de Avaliação de Produtos de Origem Animal (LAPOA) contamos com uma plataforma de sequenciamento de DNA de alto desempenho (NGS), única no estado da Paraíba, constituída por sequenciador Illumina Miseq, um sistema de eletroforese capilar (Fragment Analyzer) e vários equipamentos periféricos para preparação e avaliação de bibliotecas genômicas. Através da rotina de sequenciamento, o LAPOA/CCA tem desenvolvido projetos nas áreas de microbiologia, zootecnia e medicina veterinária, voltados ao sequenciamento integral do genoma de microrganismos patogênicos (WGS), metagenômica aplicada ao estudo de microbiomas (animais, plantas e solo) e resistência antimicrobiana, dentre diversas outras aplicações. Os projetos são desenvolvidos em parceria com instituições internacionais (Ohio State University, Univerity of Maryland) e nacionais (EMBRAPA, UFRRJ, UFPA, UFRRJ, UFRPE). Por fim, o serviço de sequenciamento de alto desempenho é oferecido à comunidade da UFPB e ao público em geral através da Fundação Parque Tecnológico (PaqTec).
Além destes exemplos, soma-se a essas ações institucionais os nossos inúmeros projetos de Extensão, os quais abarcam deste o fortalecimento de atividades de feirantes locais, informática na zona rural, inclusão digital de pessoas especiais, prevenção da violência de gênero, assistência técnica de agricultores/pecuaristas (flores, pimentas ornamentais e de consumo, hortaliças, fruticultura, caprinovinocultura, bovinocultura, cunicultura, suinocultura, avicultura , etc.) familiares na região do Brejo, Cariri e Agreste Paraibano, avaliação de qualidade de leite, equoterapia, oftamologia animal, uso de plantas medicinais, apoio à formação de professores de ensino médio, reconhecimento e combate de doenças fitopatogênicas, mapeamento epidemiológico para controle de epidemias e endemias no Brejo Paraibano e o cursinho Pré-ENEM que atende a jovens carentes de Areia e municípios vizinhos, só para citar alguns exemplos.
(Prédio Central - Foto: Ivandro Candido)
Projetos atuais e futuros
O CCA, nos últimos anos, vem reforçando a sua atuação junto ao setor sucroalcooleiro paraibano, com o desenvolvimento de pesquisas para avaliação de variedades de cana e manejo da fertilidade de solo, os quais contaram com o apoio e logística de entidades parceiras como a ASPLAN (Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba), FAEPA/SENAR, Estação Experimental de Cana-de-Açúcar do Carpina (EECAC) e da empresa SBW do Brasil (Holambra-SP). Também foi dado apoio ao grupo GESUCRO (Grupo de Estudos Sucroenergéticos) e criado o Grupo de Estudos em Grandes Culturas (que tem como foco o aumento de produtividade de culturas típicas da Paraíba – arroz, sisal, soja, gergelim, algodão, milho, feijão, sorgo, mandioca e etc.). Em parceria com o Instituto de Desenvolvimento do Estado da Paraíba – IDEP temos atuado em várias cidades do Estado para o fortalecimento da Cadeia Produtiva da Cultura da Mandioca.
Focamos também em estudos agronômicos para a recuperação da cafeicultura no Brejo Paraibano. Atualmente estão sendo desenvolvidos dois experimentos com café arábica (no primeiro estão sendo avaliados 21 genótipos cedidos pela EPAMIG e o segundo com as seis variedades mais tradicionais de MG, SP e PR). Ambos os experimentos visam avaliar a adaptação varietal às condições edafoclimáticas da região, mas futuramente devemos focar em outros aspectos como adubação e a qualidade de grãos e da bebida.
Outro foco agronômico importante está sendo dado à cultura da Palma forrageira, com a qual pretende-se realizar estudos de fertilidade em palma adensada em dois experimentos, sendo um deles a ser conduzido na Estação Experimental de São João do Cariri.
A Estação Experimental de São João do Cariri, com uma área de aproximadamente 350 ha, encontra-se em uma das regiões mais secas do território nacional, localizado na zona fisiográfica do Planalto da Borborema, fazendo parte da mesorregião da Borborema e a microrregião do Cariri Oriental ou antigo Cariris Velho, apresentando características de semiaridez mais acentuada que o sertão por estar situada na diagonal seca existente na superfície da Borborema, linha de fluxo e refluxo das massas de ar que atuam no Nordeste. Antiga Estação Experimental do Ministério da Agricultura, passou a compor o Centro de Ciências Agrárias/Universidade Federal da Paraíba, no ano de 1975, com o objetivo de contribuir com a formação dos diversos profissionais da UFPB e de instituições da Paraíba, com projetos na área de ensino, pesquisa e extensão, com ênfase na área vegetal e animal, procurando-se desenvolver e difundir tecnologias apropriadas para a região Semiárida e para o seu desenvolvimento socioeconômico.
Atualmente, destacam-se projetos na área de Zootecnia, Biologia e Medicina Veterinária, que tem estudado prioritariamente sistemas de produção pecuária em ambiente de Caatinga e com espécies animais e vegetais nativas e a busca pela recuperação de Sistemas Agropecuários em modelos sustentáveis, socialmente, ambientalmente e economicamente. O fortalecimento da base científica e do caráter multiusuário da infraestrutura de pesquisa da EESJCariri é hoje uma prioridade para os avanços para produção sustentável no setor agropecuário regional e nacional, em relevantes temas da produção vegetal e animal, ciência do solo, biodiversidade na Caatinga e saúde animal e humana.
Pretende-se inaugurar ainda em 2020 a nova sede do Departamento de Química e Física, para dar suporte estrutural aos docentes e discentes dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Química com ambiente para professores, auditório, secretaria e laboratórios de pesquisa, que poderão auxiliar não só aos dois cursos mas poderá dar suporte as pesquisas desenvolvidas por todos os cursos do nosso Centro. Também neste ano pretendemos inaugurar o Laboratório de Grandes Culturas e Plantas Daninhas do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais e o Memorial do Centro de Ciências Agrárias. Todos estes órgãos serão instalados em imóveis antigos pré-existentes que foram readequados para as novas funções.
Temos ainda como desafio angariarmos recursos para recuperação de outros imóveis históricos que serviram no passado de residência para servidores técnicos-administrativos e docentes que serão adaptados para instalação de novas demandas administrativas (nova sede do grupo PET Agrobio, Programas de Residência Pedagógica, Sede do Comitê de Inclusão e Acessibilidade, Projeto de Combate à Violência de Gênero, Museu de História Natural, Central de Aprendizagem de Idiomas e o Museu do Currículo Escolar). Além destes, temos como meta a instalação de um Jardim Botânico onde hoje se encontra o Arboreto que abrigava o antigo Orquidário do CCA (proposta já aprovada em conselho de Centro). Ensejamos fortalecer e ampliar as ações do Hospital Veterinário para que possamos, também, nos tornar uma referência em tratamento de animais silvestres (o CCA sediará, em 2021, o I Simpósio Latino-Americano de Patologia de Animais Selvagens e de Zoológicos).
Como se vê o CCA tem uma longa trajetória de contribuição ao desenvolvimento tecnológico agropecuário e ambiental no Estado e na região Nordeste, seja pela formação de profissionais que hoje se encontram espalhados por todo o país atuando em entidades privadas ou públicas, seja pelo desenvolvimento de tecnologias e novos saberes através de nossas pesquisas científicas, visando nos mantermos na vanguarda do desenvolvimento tecnológico, o fortalecimento da nossa economia, a preservação de nossos recursos naturais e da biodiversidade e o bem estar de nossa população. Que venham os próximos 84 anos!
(Clínica de Grandes Animais - Foto: Ivandro Candido)
(Aula prática - Veterinária)
(Jardim Interno do Prédio Central - Foto: Ivandro Candido)
(Foto: Ivandro Candido)